30 outubro 2012

Peractorum


Peractorum


Os sintomas mudam
a fé se descola além do mar
em barcos feitos de papel
sem medo de se perder
sem medo de se enganar

Num balançar sem enjoo
sem o sol por perto
no tapete gelado, aquoso
sem contar as horas, sem tempo
doa-se a falsa eternidade

Que se esconde na linha que vibra
sobe, desce, vira arco, espuma
e ainda assim, leva o conteúdo
tão forte conteúdo, da rocha que flutua,
é tão forte o que se deixa levar...

E que mesmo que se banhe 
com o mar que vem de cima
com o brilho das lâmpadas que falham,
com a brisa que luta para te fazer não chegar,
ainda assim, se aproxima, tão só te buscando

Sabendo que é de ti que a busca ressoa
sabendo que as letras que solidificam o papel
são mais do que frases soltas, são as emendas
que faltam ao teu ser, o cumprimento da promessa
o mais puro deleite do que antes foi o agora...

No suspiro prolongado
que se desfez 
no sorriso de outrora


Magno Pinheiro

27 setembro 2012

Papel e tinta


Papel e tinta


Uma metade sem razão
se prosta sem destino
igualitária ação
sem jeito a dizer

Ao escuro sem som
que reside no interior
parte sem imagem
parte sem cor

Esgota-se, remoe
marca o zero entre o meio
cortando caminhos, sem fuga
maior, sem medos

Literatura já sabida
biografia do ontem
lenta e repetitiva,
maré que sobe e desce

No que se pode concretizar
nesse igual, sem um ponto de vista
mágoa que traz a serenata
que vem imunda, vadia...

Entre todas as histórias
que contam pesadelos
no viver sem pestanejar
em tão distante logradouro

Na fuga que se esconde na fuga,
matéria cinzenta
em quadro introspectivo
e no respiro a mais

É que se diz:

Suma que não te quero mais...


Magno Pinheiro

11 setembro 2012

Veranil


Veranil



Dentro da história
leve como uma pena
a estranha sensação de estar
no ar, sem os pés tocarem
as nuvens, tão distantes...

Que os olhos se enganam ao enxergar
vaga mente, vagamente, mentiras enaltecidas
contornos sem abraços
das velas que se apagaram, lágrimas sem dor

Dentro do coração, o nada se desfaz
um outro algo se faz, nasce sem perder
sem perdão, andando até não encontrar
onde o longe é novamente claro

Nesse tempo em que o verão se distancia
e a cada vez mais a pintura perde o azul
loucura que em algum momento viveu
em cada batida sem eco, de agonia
que distancia a qualquer custo

Do precisar, do viver, o verbo ação
esquecer sem fechar os olhos,
do sorriso que se materializa
feliz como só pode ser,
feliz por não ser...

Shhhhh...


Magno Pinheiro

25 maio 2012

Falante


Falante


Melodia como pano de fundo, voz cantada, 
sussurro desinibido, em coesa harmonia
migratória como eco, malabarista entre fendas
beleza em ondas, mar seco, dona da chuva
seca, riso frouxo, malícia e irônia


Sorristes? não, não, proibo-te
nunca sorristes antes sem me pedir
debochada quando quer, não não...
não me venha com notas soltas


Minh'alma não suportaria a escolha
de soprar para bem longe a tua presença,
migra de volta como a passarada de veroneio
ao véu da multidão, uníssona, venha


Marcar a noite, a história, o sabor
sem mexer com nada mais do que o agora
sem peso, mea culpa, nada que entregue
imaterial, quero-te, logo, ontem, silêncio




Shhhhhh
o silêncio ecoa
shhhhhh
ecoa...



Magno Pinheiro

02 maio 2012

Bordão


Bordão


Sono de outrora
Caminho curto
Vítima da aurora
Nas horas se estranham
Passam, se enganam
Loucas e comedidas
Sonoras e silenciosas
Mínimas e revoltadas
Impregnadas de coragem
Maravilhadas, entediadas
Sibilantes antes do bote
Indiferentes antes do dote
Que guardou em palavras
Na vontade sem querer
Dignas de um outro dia
Quando acordar se transforma em lenda
no despertar sem o outro você


Magno Pinheiro

08 março 2012

Estático

Estático



Quedas estáticas
Livros sem páginas
Carma sem causa
Um mudo som

Na estranha e esquecida
brincadeira de estátua,
encenar na tinta insolúvel
nos sorrisos desenhados sem giz

Que levam para fora, quilômetros sem vista
Ensaios no escuro, repetição...
Um eterno descuido...
Um sol sem brilho...

De minutos datilografados
Histórias, imaginação
Em contagem regressiva
Se libertando do movimento.

No fechar dos olhos
click...
O mundo parou...


Magno Pinheiro

10 fevereiro 2012

O Prazer é todo meu

O Prazer é todo meu



Sorriso, vermelho roubado,
inflama a atenção com tua presença
Gueixa da cor de mármore, sublime
mulher das palavras que lhe cabem

Malabarista das vontades
senhora dos desejos
dama do insustentável querer
dona da aurora, do anoitecer

Noiva do orgasmo, libertina
das unhas de prata, da língua de ouro
do toque sem cor, da maciez instigante
do desabrochar de sensações...

Dominadora das horas medidas
dos olhos que se cruzam,
da ilusão transparente, vigorosa,
do pano que faz a veste se insinuar

Da quietude, do afago,
Do suspiro prolongado,
Do gemido esticado,
Do deleite exacerbado...

Do querer sustentável, inevitável
Eterno pelo tempo que ocupa,
Da entrega ao sopro melódico
Fôlego que se foi, no que me faz...

Ser abraço,
Ser encanto,
Ser tão desejosa função...


(...)


Prazer,
Me nome é prazer...




Magno Pinheiro

02 fevereiro 2012

Houve um tempo...

Houve um tempo...



Houve um tempo em que a música sabia tocar, ela dizia aos ouvidos tudo o que se queria escutar, sábia e desmedida, nunca se preocupou com o que dizer, leve por natureza, na simplicidade se fazia ressoar, foi de tempo em tempo dizendo o verbo solto, de tempo em tempo, escondendo o próprio amor do povo, mas nunca deixou de ser música, mesmo aos ouvidos que não a pudesse escutar.

Ah, que maldade ! que maldade eu digo !
assumo que sou música, pois no teu ouvido quero estar !
mesmo que me renegue, sou melodia antes mesmo de ser paixão
me encontro nas esquinas e nas alamedas de seu coração
pintando de cores e buscando os frutos, que escondes
em tuas camadas transparentes, doce alma

Livre e desenpedida, alça voo, sobe aos planos imortais
e se faz livre, voa, voa e diz que o som que lhe toca
é o mesmo que acaricia outros ouvidos, não temas, não serás rejeitada
tens o teu ninho, teu canto certo, não precisas procurar, o teu ninho te busca
repousa em quem te aceita, em quem te venera, em quem vive pelo teu gorjear

Soberana, lenta, rápida, agitada, instrumental
marcas o teu tempo com as dezenas, com as diversas passadas
hipnotiza, faz o corpo se reclinar, faz dizer sim,
faz sorrir, faz chorar, faz...



Magno Pinheiro

31 janeiro 2012

O Vento

O Vento


O transtorno que abala os lábios
enclausurados, reféns da solidão
o tom amargurado que assola
antes de nascer, felicidade de quem ?

Se choras antes, secas os caminhos
que a levariam a não se perder,
rio sem sal, rio sem mar,
nadarias sem peso, antes de evaporar

Mas ainda assim dorme,
sono de ontem, sonho do amanhã
se encolhendo
buscando os cantos sem retas

Em um pestanejar sincrônico
um coma induzido pelo selar,
um véu perecível, adornado pelo tempo
do rosado novo ao rosado velho

Selando o vento...
e com ele a paixão de criar
o sentimento tão desejado,
que um dia buscou quando o vento


Ainda sabia voar...



Magno Pinheiro

12 janeiro 2012

Pedaços

Pedaços



Na noite que existe
No ar, o alento ensurdecedor
Fugir de sí, ao céu chegar
Cego, surdo e louco.

A saudação de boas-vindas
O fim que retorna ao seu dia a dia
No desespero, seu consolo
Nomes se aproximam, mas quem sou eu ?

Um estranho a vagar, pela aprovação
Que existe em cada um, mas em mim
Miséria, migalhas, sou o que sou
Me conforte sonho ruim.

Estenda a sua mão,
Tire-me de sua realidade
Reflita no espelho aquoso
A única saída, verter.

Para onde o solo é mais próximo
De ponta-cabeça, o estranho mundo
Da imagem sem foco, sem direção
Desgosto com gosto de terra.

Em mil pedaços, estou.



Magno Pinheiro

09 janeiro 2012

Sincronia

Sincronia




Existe uma sincronia entre o novo e o velho,
no velho o novo se remonta, no novo o velho se refaz
e vivendo essa montagem tão lógica, o absorto se cria
livre para pensar e agir, sem sombra e sem dúvida,
invisível até para o chão em que pisa...

...

Mas é triste,
é triste ver o ser que pensa,
mas na verdade, sente...
e se obriga a virar palavra

Quando humilhado e amargurado
brinca com o próprio intelecto
desfigurando a sua imagem
no riso açucarado e delicioso

Que acaricia a sua língua infantil
dando forças para uma nova-velha
viagem ao centro de sua redoma
sua bola, seu chute, seu rosnar

...


Sorria ! Sorria !
Sorria e deixe fluir a bílis
que degusta com prazer o seu interior
Sorria ! Sorria !

E se rasteje, no encaixe
do triste e apagado retrato
que no ontem nunca foi novo e agora se refaz
em sua ditosa e melódica sincronia...



Magno Pinheiro

02 janeiro 2012

Explosão

Explosão



Romantizar os desejos
Ser o solo aguardando a flor,
A melodia que acaricia o arrepio de suas costas,
As cores em formato de peças,
O quebra-cabeças quase formado,
As linhas que esperam o traço.

De tuas pequenas e delicadas mãos,
Que aproximam as horas, em cada sorriso destinado
Ao certo dia, à certa hora do seu chegar, do existir
Do minuto adiado, do recanto não visitado,
De um nosso que já desejava ser, no antes, no mesmo.

Ver, os olhos famintos pelo real, a pele faminta pelo surreal,
Em transcender a temperatura além dos limites do azul celeste,
Do espaço que se faz pouco, ao sentir exagerado,
Dos corpos em suas órbitas, atraídas pelo querer
Sorrisos, constelações abraçando a epifania,
No eterno querer, de se formar para o além dos sentidos.


Explosão...



Magno Pinheiro

1/2

1/2




Meu lar nasceu no seu sorriso
Minha cantiga de ninar,
Minhas cordas, minha canção

Que de lábios quentes, pronuncio
Teu hino em forma de nome
Meu caminho para a paixão

Que brilha, que pisca
Que me chama, que me enfeitiça
Nesse código do amar

E que de maneira aberta me chama
Alimenta o meu desejo
E corre para perto ficar

Na fantasia da rima desenfreada
No meu afago mais desejado,
Minha divina e efêmera ilusão...

Corre, corre pro meu peito,
Me encha de carinhos,
Corre, e me faz cantar

Como é bom viver,
No meu universo,
Dentro do seu sorriso...



Magno Pinheiro